A
trajetória da educação escolar da pessoa com surdez, ocupa lugar de destaque há
quase dois séculos. A discussão entre os gestualistas e oralistas, atribuem o
sucesso ou fracasso escolar, desse público alvo, à metodologia específica utilizada
por cada uma delas. Desta forma ou daquela, no uso desta ou daquela língua,
protagonizam um modo insatisfatório de rendimento, depreciando o potencial
existente na pessoa com surdez e desfavorecendo as áreas cognitivas,
linguísticas e afetivas do educando.
No Brasil,
a nova política da educação especial na perspectiva inclusiva, traça um
contraponto ao antes estabelecido e promove a inclusão de todos, principalmente
as pessoas com deficiência. Essa proposta favorece o potencial e a capacidade
notória que o ser humano possui, como ser de consciência, pensamento e
linguagem, sem direcionar o problema exclusivamente para a língua em si, a
Língua de Sinais.
É preciso construir
um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as línguas tenham
o seu lugar de destaque, mas que não sejam o centro de tudo o que acontece
nesse processo. Aí, deve-se discutir a presença obrigatória de quem age, produz
sentido e interage: a pessoa com surdez (Damázio e Ferreira, 2010)
É função da escola é garantir a aprendizagem de
conhecimentos, habilidades e valores necessários à inserção do indivíduo em
nossa sociedade, favorecendo sua relação com o mundo e a realidade que o
cerca, independente da limitação que este possui, mas criando meios satisfatórios
para que isto aconteça, pois sabe-se que essa limitação sensorial, por si só,
não oferece impedimento ao acesso do conhecimento.
Sob a luz
da concepção pós-moderna, só o uso da língua de sinais não é garantia de uma
aprendizagem significativa, assim como o português oral também não é, para a
pessoa ouvinte, já que esta, do mesmo modo, tem problemas de aproveitamento
escolar.
Através do
Decreto 5.626/05, que legitima a Língua Brasileira de Sinais e seu uso
concomitante com a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, garante à pessoa
com surdez o desenvolvimento do processo educativo no ambiente escolar.
Neste contexto,
autenticamos a abordagem bilingue que capacita a pessoa surda para a utilização
dessas duas línguas: a Libras e a língua da comunidade ouvinte, a língua portuguesa
na modalidade escrita, além de prever o arranjo de turmas mistas (surdos e
ouvintes) dentro do mesmo espaço educacional, com formação para os professores
e intérpretes da área, eliminando a segregação e exclusão deste público em
nossa sociedade.
A atenção é
voltada, antes de mais nada, ao potencial existente nesses seres, independente
de suas limitações, diferenças ou o marcador surdo.
Mais do que uma
língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores,
que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade cognitiva desses alunos.
Obviamente, são pessoas que pensam, raciocinam e que precisam como os demais de
uma escola que explore suas capacidades, em todos os sentidos.(Damázio, 2005)
É através
do Atendimento Educacional Especializado-AEE, na frente dos três momentos
didático-pedagógico, extremamentes necessários ao pleno desenvolvimento e
aprendizagem da pessoa com surdez, que as diferenças desses alunos serão
respeitadas, bem como o reconhecimento de seu potencial e de suas capacidades.
O AEE deve
ser visto como um momento de (re)organização das experiências vividas ao longo
de sua trajetória acadêmica, construindo uma teia de diálogos entre essas duas
línguas (Libras e o Português escrito), conectando a teoria à prática, responsáveis
pelo desenvolvimento do potencial cognitivo, afetivo, social e linguístico
deste aluno.
Baseado no estudo das habilidades
e necessidades de cada aluno, o AEE envolve três momentos didático-pedagógico:
·
Atendimento
Educacional Especializado em Libras: em que todos os conhecimentos dos
diferentes conteúdos curriculares, são explicados na língua gestual, por um
professor preferencialmente surdo;
·
Atendimento
Educacional Especializado de Libras: aulas em Libras, favorecendo o
conhecimentos de termos científicos. O conteúdo é explorado por um professor ou
instrutor, preferencialmente surdo, respeitando o conhecimento prévio do aluno
em relação a Língua de Sinais;
·
Atendimento
Educacional Especializado de Língua Portuguesa: neste momento são trabalhadas
as especificidades da língua portuguesa para os alunos surdos. Oferecida à
parte das aulas da turma comum, por uma professora da área de Língua Portuguesa
em respeito ao conhecimento adquirido pelo aluno em relação a esta língua.
Sabemos que essa transformação é um grande
desafio para essa escola que está posta, entretanto essa é a escola que
queremos: de todos e para todos. O rompimento desse paradigma, faz parte de uma
gloriosa prática educativa que tem o surdo como protagonista de todo o processo
educacional.
Referências:
DAMÁZIO,
Mirlene F. M., ALVES, Carla B. e FERREIRA, Josimário de P. Educação Escolar de Pessoas com Surdez In AEE:
Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará, 2010.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação
Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e
Avanços Contemporâneos. In:
II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília.
Anais... Brasília: MEC, SEESP, 2005.
p.108 – 121.
DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com
Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista
Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-72.