By Elilze de Paula

23 de março de 2014

EDUCAÇÃO ESCOLAR DA PESSOA COM SURDEZ

A trajetória da educação escolar da pessoa com surdez, ocupa lugar de destaque há quase dois séculos. A discussão entre os gestualistas e oralistas, atribuem o sucesso ou fracasso escolar, desse público alvo, à metodologia específica utilizada por cada uma delas. Desta forma ou daquela, no uso desta ou daquela língua, protagonizam um modo insatisfatório de rendimento, depreciando o potencial existente na pessoa com surdez e desfavorecendo as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas do educando.
No Brasil, a nova política da educação especial na perspectiva inclusiva, traça um contraponto ao antes estabelecido e promove a inclusão de todos, principalmente as pessoas com deficiência. Essa proposta favorece o potencial e a capacidade notória que o ser humano possui, como ser de consciência, pensamento e linguagem, sem direcionar o problema exclusivamente para a língua em si, a Língua de Sinais.
É preciso construir um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não sejam o centro de tudo o que acontece nesse processo. Aí, deve-se discutir a presença obrigatória de quem age, produz sentido e interage: a pessoa com surdez (Damázio e Ferreira, 2010)

É função da escola é garantir a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à inserção do indivíduo em nossa sociedade, favorecendo sua relação com o mundo e a realidade que o cerca, independente da limitação que este possui, mas criando meios satisfatórios para que isto aconteça, pois sabe-se que essa limitação sensorial, por si só, não oferece impedimento ao acesso do conhecimento.
Sob a luz da concepção pós-moderna, só o uso da língua de sinais não é garantia de uma aprendizagem significativa, assim como o português oral também não é, para a pessoa ouvinte, já que esta, do mesmo modo, tem problemas de aproveitamento escolar.
Através do Decreto 5.626/05, que legitima a Língua Brasileira de Sinais e seu uso concomitante com a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, garante à pessoa com surdez o desenvolvimento do processo educativo no ambiente escolar.
Neste contexto, autenticamos a abordagem bilingue que capacita a pessoa surda para a utilização dessas duas línguas: a Libras e a língua da comunidade ouvinte, a língua portuguesa na modalidade escrita, além de prever o arranjo de turmas mistas (surdos e ouvintes) dentro do mesmo espaço educacional, com formação para os professores e intérpretes da área, eliminando a segregação e exclusão deste público em nossa sociedade.
A atenção é voltada, antes de mais nada, ao potencial existente nesses seres, independente de suas limitações, diferenças ou o marcador surdo.
Mais do que uma língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade cognitiva desses alunos. Obviamente, são pessoas que pensam, raciocinam e que precisam como os demais de uma escola que explore suas capacidades, em todos os sentidos.(Damázio, 2005)

É através do Atendimento Educacional Especializado-AEE, na frente dos três momentos didático-pedagógico, extremamentes necessários ao pleno desenvolvimento e aprendizagem da pessoa com surdez, que as diferenças desses alunos serão respeitadas, bem como o reconhecimento de seu potencial e de suas capacidades.
O AEE deve ser visto como um momento de (re)organização das experiências vividas ao longo de sua trajetória acadêmica, construindo uma teia de diálogos entre essas duas línguas (Libras e o Português escrito), conectando a teoria à prática, responsáveis pelo desenvolvimento do potencial cognitivo, afetivo, social e linguístico deste aluno.
Baseado no estudo das habilidades e necessidades de cada aluno, o AEE envolve três momentos didático-pedagógico:
·     Atendimento Educacional Especializado em Libras: em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares, são explicados na língua gestual, por um professor preferencialmente surdo;
·     Atendimento Educacional Especializado de Libras: aulas em Libras, favorecendo o conhecimentos de termos científicos. O conteúdo é explorado por um professor ou instrutor, preferencialmente surdo, respeitando o conhecimento prévio do aluno em relação a Língua de Sinais;
·      Atendimento Educacional Especializado de Língua Portuguesa: neste momento são trabalhadas as especificidades da língua portuguesa para os alunos surdos. Oferecida à parte das aulas da turma comum, por uma professora da área de Língua Portuguesa em respeito ao conhecimento adquirido pelo aluno em relação a esta língua.
Sabemos que essa transformação é um grande desafio para essa escola que está posta, entretanto essa é a escola que queremos: de todos e para todos. O rompimento desse paradigma, faz parte de uma gloriosa prática educativa que tem o surdo como protagonista de todo o processo educacional.



Referências:

DAMÁZIO, Mirlene F. M., ALVES, Carla B. e FERREIRA, Josimário de P. Educação Escolar de Pessoas com Surdez In AEE: Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010.   

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais... Brasília: MEC, SEESP, 2005.  p.108 – 121.

DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-72.